Alunos do Ensino Médio terão centro de pesquisa com o que há de mais moderno em tecnologia da informação. Modelo é inspirado em projeto no Recife
Uma experiência totalmente inovadora na área da Educação vai desembarcar no Rio nos próximos dias. ‘Importada’ do Nordeste, uma escola pública do futuro será inaugurada dia 27, na Tijuca. Nela, jovens do Ensino Médio estudarão em horário integral.
Além das matérias normais, farão curso técnico de última geração — ali funcionará centro de pesquisa com tudo o que há de mais moderno na área de Tecnologia da Informação. No fim de três anos, seus alunos sairão preparados para desenvolver jogos eletrônicos e programação para TV Digital, além de dominar as técnicas dos estúdios para web-rádio, TV e ilha de edição.
A idéia é inspirada no modelo bem-sucedido do Centro Experimental Cícero Dias, no Recife, e vem de encontro a momento de crise na educação estadual do Rio. Ano passado, a rede deixou milhares de alunos sem aula por seis meses. Teve desempenho vergonhoso no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado em todo o País: 99 entre as 100 escolas com pior resultado na prova são da rede estadual. De cada 30 alunos, três abandonam os estudos, segundo dados do Ministério da Educação.
Fruto de parceria entre a Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco e o instituto Oi Futuro, a unidade de Recife funciona desde 2006 e tem 583 alunos em 13 turmas do 1º ao 3º ano.
Ao entrar no Cícero Dias, um desavisado não saberá que está em uma escola pública. A arquitetura lúdica e colorida, com paredes brancas e frases inspiradoras pintadas, é apenas a diferença superficial entre os velhos prédios pichados e depredados que abrigam grande parte das unidades estaduais.
Na Fábrica de Jogos tem computadores de última geração e videogames recém-lançados no mercado. Há estúdios para produção de curtas-metragens, documentários e programas de rádio, chamado Espaço Mídia Educação. E até laboratório de Robótica. A trinca é usada por todos os alunos.
Os jovens participam animadamente das aulas, apresentando resultados superiores aos que tinham com o ensino tradicional. “Esse colégio mudou a minha vida, me fez descobrir que tenho talento. Antes eu detestava estudar, vivia matando aula e só tirava nota baixa em Matemática. Hoje não tenho mais dificuldade. Aprendi como posso aplicá-la na prática”, ensina Leandro Costa, 18 anos. “Se quero ser alguém na vida, o único caminho é o estudo. A Matemática é fundamental para me tornar bom programador. É que nem verdura: a gente não gosta, mas come porque faz bem”, completa o rapaz.
Filho de costureira, que sustenta sozinha ele e suas duas irmãs, Leandro está no último ano e reconhece a oportunidade única que teve, agarrando com todas as forças a chance de mudar seu futuro. Assim como ele, a maioria dos alunos do Cícero Dias é de família pobre.
“Nunca tive contato com Informática. Vivia num mundo totalmente ultrapassado, onde as pessoas nem sabem o que é tecnologia”, admite Joyce Lourenço, 18, do 3º ano.
“Se não fosse o Cícero Dias, provavelmente não estaria mais estudando. Sempre fui aluno-problema e um garoto meio revoltado”, reconhece Thyago Duarte, 19. No 2º ano, o jovem, que não tem família e vive numa comunidade, é um dos mais ativos da escola. Além de aprender a fazer personagens e cenários, preparar o roteiro e transformar tudo isso em jogo de computador, ele ainda participa dos programas de rádio e da produção de vídeos feita pelos alunos.
Criativos e empreendedores
Mais importante do que máquinas de última geração é a filosofia seguida à risca pela escola do Recife. É ela quem determina o sucesso da experiência educacional futurista, afirmam professores e diretores.
Na Cícero Dias, os jovens ajudam as definir as regras. Lá, foram eles que ditaram os limites para atraso e namoros, que estão permitidos, desde que discretos. O protagonismo juvenil é incentivado. “Isso reflete diretamente no comportamento dos alunos, que não esperam que peçam ou mandem. Tomam iniciativa e inventam sempre projetos novos”, conta Júlio Horta, gestor do Oi Futuro na Cícero Dias.
“Não os vemos como recipientes vazios onde se joga conhecimento. Passar conteúdo é só um dos nossos papéis. O aluno tem várias dimensões. Trabalhamos, além de raciocínio e inteligência, sensibilidade, moral e ética. Tentamos ajudar na formação de cidadão que contribua positivamente para a sociedade”, resume Evandro Dias, professor de Português.
UNIDADE VAI QUALIFICAR MÃO-DE-OBRA PARA LIDAR COM OS DESAFIOS DA TV DIGITAL
Aqui no Rio, a parceria público-privada vai render uma escola com mais recursos e ainda mais moderna que a do Recife. Além de aulas de programação de jogos e espaço dedicado às tecnologias de mídias já conhecidas, os alunos vão se especializar no desenvolvimento de soluções para a TV digital.
“Queremos formar técnicos para uma área que está em ascensão e não tem profissionais qualificados. Eles sairão da escola aptos a ir tanto à universidade quanto ao mercado”, afirma o vice-presidente do Oi Futuro, George Morais.
A unidade carioca vai funcionar no prédio da antiga Telemar que fica na Rua Uruguai, Tijuca. Os 14 professores que trabalharão lá começam a ser treinados amanhã. Neste primeiro momento, 176 estudantes estão matriculados em quatro turmas do 1º ano, mas o número deve aumentar para 600 até 2010. Eles passaram por criterioso processo de seleção com entrevistas e provas. O objetivo era identificar quem tivesse afinidade com tecnologia para se adequar ao modelo pedagógico e formar um grupo motivado. Os alunos começaram o ano em outras escolas da rede e serão transferidos. Há um mês, eles e os pais se reúnem com equipes da secretaria e do Oi Futuro para se familiarizar com o projeto.
“O colégio será modelo para outras escolas técnicas. Nosso objetivo é modernizar o ensino com experiências de sucesso que ofereçam educação de qualidade. Outros projetos como esse serão implementados nos próximos anos”, promete o subsecretário de Planejamento de Educação, Rafael Martinez.
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