19 novembro 2007

De ‘inimigas’ a aliadas

Consideradas nocivas para os jovens, LAN houses já são usadas como local de estudo graças ao acesso barato à Internet. Grupo de proprietários quer mudar imagem dos estabelecimentos

Um grupo de proprietários de LAN houses decidiu virar o jogo. Com apoio de educadores e militantes da inclusão digital, esses empresários querem transformar seus estabelecimentos — vistos como inimigos da educação — em aliados do ensino. Munidos de estatísticas que dão conta de que 50% do acesso à Internet nas classes D e E são realizados dentro desses locais, seus donos resolveram criar uma nova tendência: as “LAN houses do bem”. Os computadores dessas casas começam a ser usados para pesquisas, busca de emprego, execução e impressão de trabalhos escolares.

“Há enorme potencial de uso para educação e geração de renda. Existe número muito grande de acessos ao Orkut e ao MSN. E há estudantes que vão fazer pesquisas escolares, escrever e imprimir currículo, consultar sites para se aproximar do mercado de trabalho. Mas isso ainda é pouco”, admite o diretor-executivo do Comitê para Democratização da Informática (CDI), Rodrigo Baggio, que defende a inclusão digital como instrumento para a educação.

As casas de acesso à Internet, que incluem os cybercafés e são genericamente chamadas de LAN houses, surgiram no Brasil há cerca de quatro anos, como ameaça à escola. O medo de pais e educadores era de que os jogos em rede — muitos com mensagens de violência — pudessem tirar alunos da sala de aula.

Até hoje, grande parte das LAN houses são locais escuros e pouco instrutivos, que de fato atraem alunos em horário escolar. Alguns vendem bebida alcoólica, não restringem temas pesquisados por idade e colaboram para a visão negativa de ambientes clandestinos.

A idéia das LANs do bem é — literalmente — iluminar esses ambientes e transformá-los em ferramenta para a educação, como mais uma utilização da tecnologia para melhorar o desempenho de alunos, a exemplo de projetos mostrados ontem por O DIA (confira os trabalhos pelo link http://odia.terra.com.br/educacao/videos.asp). Entre as práticas que as diferenciam das outras, as LANs do bem não oferecem camisa para estudantes colocarem sobre o uniforme a fim de burlar a fiscalização, combatem a evasão escolar controlando idade e horário dos freqüentadores e filtram o conteúdo acessado conforme o cliente.

Estudante de Educação Física, o bailarino Renato Lima, 33, usa os computadores das LAN houses para pesquisa. “O custo é bem menor e me ajuda nos trabalhos da faculdade. Além disso, posso conhecer a cultura dos países que visitei através do balé”, conta. Como ele, os estudantes Luan Neto da Silva, 18, e Ruan Luiz Bastos freqüentam a LAN house de uma comunidade da Zona Oeste. “Jogo mais no fim de semana. De segunda a sexta-feira, faço trabalhos para a escola”, diz Luan, aluno do 2º ano do Ensino Médio.

Embora a Secretaria Municipal de Governo contabilize 1.050 estabelecimentos de acesso à Internet, estima-se que haja cerca de 4,5 mil LAN houses na cidade e 9 mil no estado. Na Rocinha, onde Bruna Botelho mora, é possível acessar a Internet por R$ 1,50 a hora. É lá que se concentra o maior número de LAN houses no Rio: seriam cerca de 130. Com acesso barato, os principais obstáculos para a inclusão digital saudável não são financeiros.

A clandestinidade, alimentada por leis que proíbem, em vez de regulamentar e controlar a atividade, é vista como vilão por quem defende seu potencial educativo. “A maioria está em ambientes pouco saudáveis. Mudanças precisam ser feitas”, diz Baggio.

ESTATUTO PROÍBE PRESENÇA DE MENORES EM LANs

Embora sejam uma realidade nas ruas do Rio, lei estadual proíbe a instalação de LAN houses num raio de 1km de escolas. Mário Brandão cita comunidades no Orkut — que reúnem 6 mil membros cada uma — para comprovar a existência de donos de LAN houses que estariam dispostos a sair da clandestinidade. “A licença é negada, pois acesso à Internet se enquadra como jogos eletrônicos. E o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe menores em LAN houses. A luta é convencer que, para combater a má postura, é preciso legalizar quem está informal. “Também não quero que meu filho falte aula”, diz.

Aluna do Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, em Copacabana, Bruna Rodrigues, 15 anos, mora no Vidigal, não tem computador e recorre a LANs e cybercafés para ter acesso à Internet tanto para pesquisas escolares quanto para entrar em sites de relacionamento. A colega dela Bruna Botelho, 16, também freqüenta as LANs, mas admite ter dificuldade de estudar nesses ambientes: “Até já tentei fazer pesquisa, mas é difícil me concentrar. Entro no msn e logo começo a conversar com amigas”. Por telefone, a mãe tenta controlar o tempo em que a menina passa nesses lugares.

Fonte: O Dia

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