29 setembro 2007

Pelas próprias mãos, com o próprio bolso

Inclusão digital: cada um por si. Um milagre do varejo a longo prazo e de as pessoas terem entendido que o governo não vai resolver seus problemas...

Pesquisa recente da Research International aponta que a intenção de compra de PCs no Brasil, no futuro próximo, passa pela cabeça de 20% da classe D e está na agenda de 25% e 24% das classes C e B, respectivamente. Na classe A, em que quase todo mundo já tem pelo menos um computador em casa, a intenção de compra cai para 4%. Enquanto isso, dois terços da população nunca navegou na internet, e esse número só regrediu 1.1% entre 2005 e 2006.


Na verdade, faz tempo que não estamos progredindo muito em acesso à informação, o que aumenta significativamente a distância entre quem tem oportunidades digitais e quem não tem. Roberto Ramos, da RCR Consultoria, em entrevista publicada na TIC Brasil , explica o que está acontecendo no Brasil digital, quais são as tendências e por que é que as coisas podem melhorar daqui para frente. Com cada um, mesmo os que não têm muito, gastando boa parte do que têm para ter acesso a, literalmente, uma janela para o presente.




Algum tempo atrás (em “Um Brasil que cresce como a China ”, nesta coluna) falamos das previsões de crescimento explosivo da indústria de PCs no Brasil. Os chutes dos analistas estão se transformando em realidade e as compras de fim de ano serão agitadas como nunca. É exatamente nas vendas no varejo, com financiamento de longo prazo (obrigado, Plano Real), feitas hoje para as classes B e C, e em breve pela classe D, que vem a festa da indústria, neste e nos próximos anos.

A partir de dezembro os set top boxes de TV digital podem entrar na mesma agenda de compras a prazo, especialmente dos que não têm TV por assinatura. Ainda mais se as TVs abertas transmitirem, no canal digital, programas e eventos exclusivos (será?). Vai ser mais um “mídiabox”, mais uma conta para o bolso das classes B, C e D, já esticadas até o limite de seu endividamento ou depois. Mas desta história falaremos em dezembro. Até lá, vamos ver soluções de acesso sem fio (de banda “não muito estreita”) e de baixo custo no mercado, estressando ainda mais as finanças domiciliares, mas que podem trazer milhões de pessoas para a rede em pouco tempo, sem um pingo de esforço de Brasília.

De qualquer forma, há pelo menos três boas notícias pra comemorar. Primeiro, as pessoas estão levando a sério a necessidade de ter um computador (conectado) e, como não há nenhuma política de inclusão digital pela via social, como telecentros em profusão, cada um está resolvendo seu problema, com o seu dinheiro. Por isso, em segundo lugar, mais gente está passando a entender que, por aqui, não adianta esperar pelo governo para certas coisas, inclusive as sociais. Melhor encarar a dificuldade, empreender e cada um fazer o seu. Terceiro, por causa dos dois primeiros, a indústria cresce e emprega mais gente. Pena que o imposto que paga a mais acabe no buraco negro dos gastos governamentais, no balcão de cargos, do descaso com a coisa pública.

O mapa de exclusão digital no país, a "cara" do Brasil informatizado , hoje, não é muito diferente do censo de 2000, quase uma década depois… A esperança é que as próprias pessoas, independentemente de classe e renda, resolveram resolver o problema. Coisas do Brasil: impostos INgleses, serviços de GANA. Talvez devêssemos trocar o nome do lugar pra INGANA.

Fonte: G1 - Silvio Meira

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