27 fevereiro 2007

Internet possibilita a qualquer pessoa o papel de jornalista

Uma mudança está em curso no jornalismo mundial. E você (sim, é você mesmo, caro leitor) encontra-se no centro disso. Com a popularização das formas de colaboração via internet, o cidadão está deixando a sua posição de, na maioria da vezes, mero espectador das notícias para transformar-se, ele próprio, em um narrador dos fatos.
Sites em que os internautas publicam reportagens; páginas em que os usuários, e não jornalistas, determinam quais fatos têm maior relevância; blogs com relatos pessoais dos acontecimentos e até um jornal virtual gerado por milhares de "repórteres" amadores espalhados pela Terra são exemplos de como essa onda está se disseminando.
O fenômeno, inclusive, já chamou a atenção de veículos tradicionais, como The New York Times, BBC, Estadão, O Globo, entre outros, que desenvolveram ou estão desenvolvendo canais virtuais para o leitor contribuir na cobertura dos fatos com textos e fotos.
"A web permite que as pessoas publiquem tudo o que quiserem facilmente. E muitos optaram pelo jornalismo, como uma forma de suprir temas que a mídia não cobre", disse ao Link o jornalista norte-americano Dan Gillmor, um dos principais ativistas mundiais do "jornalismo cidadão", como está sendo chamado o fenômeno.
Para ter uma idéia da abrangência do fenômeno no mundo, nos EUA, dos 20 milhões de blogs, 34% são considerados jornalísticos por seus donos, aponta um estudo divulgado no ano passado pela Pew Internet & Family Project. Mais: na Coréia do Sul, por dia, 700 mil acessos são feitos ao jornal virtual OhMyNews, redigido pelos próprios internautas.
No Brasil, a coisa ainda não chegou a tanto. Mas as iniciativas de "jornalismo cidadão" começam a se multiplicar. Portais como IG e Terra já permitem que os usuários relatem os fatos em textos, fotos e vídeos.
Os sites dos jornais Estadão, O Globo e Lance! contam com canais para materiais noticiosos do público. Há ainda blogs noticiosos e páginas como o Overmundo, que publica reportagens sobre cultura.
"O jornalismo cidadão ainda é novo no País", diz o pesquisador do Ibope Inteligência José Calazans. "Os brasileiros não têm o costume de procurar essas fontes alternativas para se manter informados."
Mas, segundo a jornalista e especialista em mídia cidadã Ana Maria Bambrilla, isso tende a mudar. "O País ainda tem limitações, como a pequena penetração da internet. Mas não tenho dúvidas de que o jornalismo cidadão ganhará mais adeptos no Brasil. Já é uma realidade hoje. E tende a crescer."
As personal stylists Cristina Gabrielli, 31 anos, e Fernanda Rezende, 29 anos, por exemplo, já fazem parte desse novo movimento. No blog Oficina de Estilo, elas publicam notícias sobre moda e cultura. Na última São Paulo Fashion Week, as duas foram até cobrir os desfiles pessoalmente.
"A diferença entre uma notícia de um site tradicional e a publicada pela gente no blog é que conseguimos criar uma relação mais próxima com os leitores", diz Cristina. "As pessoas acessam o blog para ver as nossas impressões sobre tal coleção, por exemplo."
Essa "democratização" do jornalismo, porém, não é bem vista por alguns setores da imprensa. Órgãos de classe, como sindicatos, defendem que só pode ser considerado jornalismo o que é gerado por profissionais com diploma superior de jornalismo.
"Um jornalista precisa conhecer técnicas, o que só se aprende na universidade", diz o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio de Andrade. "Um internauta, por exemplo, não tem compromisso de checar bem a notícia antes de publicar."
Nesta edição, o Link discute, com jornalistas, "repórteres" amadores e especialistas, esse novo modo de produzir e publicar notícias. E damos dicas para quem quiser entrar na onda. Ah, e não esqueça sua câmera digital e seu bloco de anotações. Na web, agora é você quem faz a notícia. As informações são do O Estado de S. Paulo/Link

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